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O professor, construtor de futuros

Postado em 15 de outubro de 2025 Por Jones Figueirêdo Alves Desembargador Emérito do TJPE. Advogado e parecerista.

Quando Sócrates (470-399 a.C.) foi o mestre de Platão, influenciando profundamente o pensamento crítico, com sua maiêutica (“maieutike”), ensinando nas praças, desafiando os jovens a pensar por si mesmo, tenha-se, antes de mais, a compreensão de o professor ser um agente transformador. Ele tem o dom de despertar o melhor em cada um de seus alunos, ligando o presente às possibilidades do amanhã, inspirando ideias, preparando os jovens para os desafios do mundo e da vida.

Platão (428-347 a.C.), por sua vez, foi o professor mais famoso e influente de Aristóteles (384-322 a.C.), que o ensinou na Academia, a instituição de ensino superior por ele fundada.

Adiante é o próprio Aristóteles que desenvolvendo seu pensamento filosófico, funda sua escola, o Liceu, onde leciona a seus próprios alunos.

Desse proêmio, extrai-se que a raiz das Universidades, sempre foi o professor. Nele, o ensino de uma disciplina destaca-se como a gênese da melhor educação. Em outras palavras, é o professor que determina o surgimento das escolas, a importância e o sucesso das faculdades.

Certo que a ascensão das Universidades depende do mestre, anota-se, em escorço histórico, que Pierre Abélard (1079-1142), teólogo e filósofo escolástico francês, considerado um dos mais importantes e ousados pensadores do século XII emancipando a lógica da metafísica (tornando-a uma disciplina autônoma), notabilizou-se como professor. Segue-se, daí, que pouco depois de sua morte, houve o surgimento da Universidade de Paris.

Ser professor é mais do que ensinar fórmulas, teorias ou regras. É cultivar mentes, plantar sonhos em terreno fértil, mesmo quando o solo parece árido. Que acredita no potencial de cada aluno, mesmo quando nem eles mesmos acreditam. Na sala de aula — física ou digital — o professor transforma o conhecimento em ponte para o futuro.

Impõe-se destacar que mesmo na presente era da tecnologia, da automação e da inteligência artificial, o professor continua insubstituível. Nenhuma máquina ensina com o olhar e com os cuidados de quem pratica o magistério. Quando construímos sistemas complexos, automatizamos indústrias e inovamos com os mais sofisticados recursos tecnológicos, certo que é todo o exponencial hoje alcançado tem-se à conta daquele que um dia nos ensinou o porquê aprender e como pensar. É o seu legado de valores da ética, da moral, do respeito e da disciplina que colocaram ensinamentos para o futuro.

Em cada área especializada de atuação, o professor será sempre um construtor de futuros:

  • Albert Einstein (1879–1955)foi professor universitário. Seu papel como educador ajudou a formar gerações de físicos, inspirava alunos a questionar o universo, com simplicidade e curiosidade.
  • Paulo Freire (1921–1997),patrono da educação brasileira, autor de Pedagogia do Oprimido, defendeu uma educação libertadora e participativa, influenciou o movimento chamado pedagogia crítica. Seu método influenciou políticas educacionais em vários países.
  • Maria Montessori (1870–1952),criadora do Método Montessori, revolucionou a educação infantil com um modelo que respeita o ritmo e a autonomia da criança. Seu legado se constituiu Influência global em escolas e métodos de ensino modernos.
  • Anne Sullivan (1866–1936), foi a professora de Helen Keller, cega e surda, ensinando-lhe a linguagem e abrindo caminhos para a inclusão. A sua área de educação especial serve de símbolo de paciência, inovação e superação na educação.

Todos eles demonstraram que o ensino, por mais que sejam de temas complexos, se torna algo acessível e fascinante, quando exercido com carisma e habilidades.

No Dia do Professor, reverenciamos as influências dos seus escritos e de suas aulas na formação de todos nós.

Estamos em proximidades do bicentenário de sua criação em nosso país, escolhido o dia 15 de outubro para homenageá-lo, porquanto em 1827, o Imperador Pedro I, editou Decreto Imperial criando o Ensino Elementar no Brasil. (https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-38398-15-outubro-1827-566692-publicacaooriginal-90222-pl.html)

Pelo decreto, determinou-se que “Em todas as cidades, villas e logares mais populosos, haverão as escolas de primeiras letras que forem necessarias” (art. 1º). Também ficou previsto que “haverão escolas de meninas nas cidades e villas mais populosas, em que os Presidentes em Conselho, julgarem necessário este estabelecimento (art. 11º).

Interessante anotar que o Decreto Imperial fez previsão expressa de paridade vencimental dispondo que “as mestras vencerão os mesmos ordenados e gratificações concedidas aos Mestres (art. 13º), quando a desigualdade nos salários em função do gênero tem sido, atualmente, um grave problema social, bastando referir que as mulheres ainda recebem 20,7% menos do que os homens nas 50.692 empresas com 100 ou mais empregados, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), ano passado.

A propósito, a igualdade salarial e de critérios remuneratórios entre mulheres e homens para a realização de trabalho de igual valor ou no exercício da mesma função é obrigatória e garantida nos termos da Lei nº 14.611, de 03 de julho de 2023, com sua vigência de apenas dois anos.

Apesar de as mulheres serem maioria no corpo docente da educação básica (da educação infantil até o ensino médio), a desigualdade de gênero persiste. Dados do Censo Escolar 2020, indicaram a disparidade salarial, quando um professor ganhava 12% a mais que uma professora.

No Dia do Professor, urgente que reflitamos sobre a necessidade de revalorização dos profissionais da educação, implementando-se novas políticas públicas em favor do magistério, com investimentos adequados em infraestrutura e tecnologia. Um ambiente educacional mais justo e eficiente exige, inclusive, que as salas de aulas sejam mais bem equipadas e funcionem em condições físicas adequadas.

Segundo o Censo Escolar de 2023, “aproximadamente 38 mil escolas não têm acesso à água tratada, e 123 mil carecem de laboratórios de ciências, elementos cruciais para um ensino de qualidade”.

Embora o Brasil invista cerca de 5,1% do PIB em educação, ainda está aquém do necessário para equipar as escolas com recursos modernos e criar um ambiente propício ao ensino e à aprendizagem.

Demais disso, urgente também se apresenta que a valorização da carreira do professor deva ser atendida com programas permanentes de capacitação, a modo e tempo de qualificá-los diante das demandas de um mundo em permanente evolução. Um padrão educacional elevado, que venha impactar diretamente na qualidade do ensino, dependerá dos investimentos na formação continuada do professor.

Impende, então, dizer, que o caminho pedagógico será sempre algo novo a percorrer. Muitas novas estradas estarão sendo abertas, sobretudo para que novas variáveis de técnicas e metodologias sejam postas a demonstrar as diversidades que possam ser experenciadas.

Uma nova existência opera-se, simbolicamente, nos saberes defendidos por Luiz Warat, fazendo-se valer como autotransformação ativa do professor e do aluno no mundo dos fatos, diante de multifacetadas situações exigíveis pela modernidade.

Ser professor é ministrar a vida, em ato sacerdotal de fé no futuro dos homens.

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