Torquato Castro Jr

Comemorando professoras e professores

Postado em 15 de outubro de 2025 Por Torquato Castro Jr. Doutor em Filosofia do Direito e do Estado pela PUC/SP Professor Titular de Direito Civil da UFPE Diretor da Faculdade de Direito do Recife

Ensino e aprendizagem são processos fundamentais para a preservação do conhecimento entre gerações e a multiplicação dos pensantes engajados nas questões de relevo para a sobrevivência do grupo. Está na base de nossa socialização e precede em muito à institucionalização da figura profissional do professor. Mãe, pai e irmãos serão de alguma forma nossos professores. Todos ensinamos e aprendemos continuamente em nossas interações, em todas as idades. Mas nem todos somos professores profissionais.

Professores, num sentido profissional, são os que propiciam deliberadamente ocasião e meios para alcançar resultados educacionais adequados e esperados, dentro de certa metodologia, que serão decisivos para o sucesso do estudante e para o interesse comum de ter uma sociedade educada e preparada para a atividade profissional.

Imagino, pelos depoimentos que vejo com frequência, que a maioria de nós sofreu em algum momento ou ainda sofre a influência de um professor que elegemos como referência para, inclusive, avaliar outros e a nós mesmos. Esses ficam em nossa memória e que alegria tão grande, quando os reencontramos. Isso acontece porque tanto com professores da educação básica quanto superior.

Mas de onde vem o sucesso de um professor, particularmente de um professor universitário?

A chave, imagino ser correto dizer, está na comunicação. Para interferir no processo de aprendizagem, é preciso acesso afetivo, é preciso conquistar e persuadir, é preciso mostrar o que ainda não se via; é preciso surpreender o aluno com a lógica que ele antes não decifrava e lhe abrir as portas do conhecimento.

E a comunicação, para ser de fato bem sucedida, muitas vezes extrapola o conteúdo programático. Postura, dedicação, seriedade, empenho, honestidade, lealdade, clareza, empatia, paciência, perseverança, sobre tudo isso se diz tanto no convívio.

Claro que é preciso expor o assunto, capacitar o aluno a aprender sempre mais, sempre de novo, contudo muito se aprende nas entrelinhas, no comentário intercalado, ou mesmo naquilo tanto que é calado mesmo.

Um professor ou uma professora, quando atinge seus objetivos, deixa marcas em quem alcança, deixa uma memória e principalmente o pensamento na seriedade do conhecimento e na responsabilidade de sua divulgação.

A profissão demanda uma entrega pessoal muito intensa, pois a expectativa de quem chega para aprender naturalmente converte-se em exigência, e é realmente um desafio enfrentar a sala de aula e sair com a  sensação de que todos ganharam com a experiência, alunas, alunos, professores e professoras.

Mas há um retorno existencial, que decorre do reconhecimento da intensidade da demanda, quando se reconhece também a intensidade da colaboração por meio das aulas e das orientações. Quando a interação é bem-sucedida, há crescimento emocional de todos e ganhos institucionais visíveis. A chave para o sucesso ou insucesso de uma escola está na relação estudante/docente.

Pode-se fazer muito bem aos outros, ou muito mal. O certo é que a posição é decisiva, num e noutro sentido.

Tive muito bons professores e professoras, a vida toda, foi um privilégio, preciso reconhecer, não é essa a realidade da maioria das pessoas, e escolhi ser professor precisamente porque o que de mais importante recebi na vida foi essa preparação para o saber, para o pensamento crítico, para a curiosidade intelectual, para a historicidade dos problemas, que procuramos incutir nas gerações que passam pelos bancos da nossa instituição.

Particularmente em relação ao curso de Direito, aos professores de Direito, sinto que há muito de uma pregação, um tom de clamor pela justiça, pela forma e garantias do Estado Democrático de Direito.

Não cabe discutir nas Faculdades de Direito a abolição da democracia, ou das eleições. Pregam-se a Constituição e os Códigos e as Leis.

O profissional do Direito é guiado assim por essa imposição interna de pontos de partida para a sua argumentação, que todavia não é tão limitada quanto pareceria ser diante da demarcação restritiva de fontes. E seu treino profissional inclui técnicas para conviver com as contradições do sistema.

É nesse ponto que o magistério traz magia, como criar no discente o hábito mental de pensar juridicamente, segundo os recortes do que é decisivo desde o ponto de vista legal. Uma vez que se aprenda isso, tudo mais vem a reboque.

Naturalmente, em tempos de tecnologias sofisticadas, o processo de ensino e aprendizagem recebe inovações, facilitações, até melhoramentos em termos de acessibilidade, que são indiscutíveis e já indispensáveis, mas ainda não se inventou nada mais sofisticado, para um ser humano, do que outro ser humano.

Confio por isso, que o papel de nossos professores continuará indispensável e insubstituível, mudem como for as mídias, nada será mais eficaz do que a atenção presente e a palavra experiente daquele que está ali, conduzindo a abertura, o desvelamento do saber na interação.

Valorizar o professor é valorizar a permanência das conquistas científicas e sociais e investir num futuro mais humano.

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