Shynaide Mafra

Insustentabilidade à vista? Como o MEI pode impactar no futuro da Previdência Social

Postado em 15 de julho de 2025 Por Shynaide Mafra Advogada, Autora, Professora, Mestre, Conselheira Federal, Presidente da Comissão Especial de Direito Previdenciário

Há muito tempo tenho refletido sobre a figura do MEI e realizados cálculos singelos sobre o quanto o MEI investe na Previdência Social e o quanto receberá ao se aposentar. Pois bem, o MEI paga mês a mês uma alíquota reduzida de 5% do salário-mínimo vigente, hoje o correspondente a R$ 75,90. Para uma mulher aposentar são necessários mínimos 15 anos de contribuição (180 contribuições) e 62 anos de idade, ou seja, serão pagas 180 contribuições de 5% do salário-mínimo, totalizando R$ 13.662,00. Considerando a expectativa de vida da mulher, segundo IBGE em 2023, de 78 anos, ela receberá a aposentadoria por 16 anos, todavia pagou por 15 (correspondente a 180 contribuições) e receberá 208 prestações, pois tem direito ao 13º salário, além de poder deixar pensão por morte.

Dito de outra forma, pagará R$ 13.662,00 e receberá R$ 315.120,00 (em valores fixos), ou ainda, 23 vezes a mais do que pagou. O raciocínio se aplica igualmente aos homens, exceto pela idade, que é de 65 anos. Ou seja, a alíquota reduzida de 5% é insustentável.

Importante registrar que o número de trabalhadores inscritos no MEI cresceu de 44 mil, no final de 2009, para cerca de 16,3 milhões no final de 2024, sendo 69,4% dos MEIs ativos no país criados a partir de 2018, curiosamente após a reforma trabalhista que ampliou as possibilidades de terceirização de atividades das empresas.

Assim, muitas empresas, para reduzir custos com pessoal, têm demitido seus funcionários e proposto uma nova modalidade de contratação, como “prestador de serviços”, um modelo no qual fica nítida a precarização do trabalho formal, especialmente no que diz respeito aos direitos trabalhistas e à estabilidade econômica. Com frequência atendo clientes engenheiros, administradores, professores, entre outros autônomos, que deveriam contribuir como contribuinte individual, pagando 20% sobre seus ganhos, mas que prestam serviços como MEI, apesar de terem renda muito superior ao que indicam para se enquadrar na categoria de microempreendedor individual, sendo clara a burla ao sistema previdenciário.

Essa realidade se traduz em números, posto que o crescimento de MEIs saltou de 1,2% para 10,7% entre 2011 e 2023, correspondendo a 47,7% do total de contribuintes individuais. Ao passo que os contribuintes individuais foram reduzidos drasticamente, regime mais sustentável do ponto de vista financeiro e atuarial.

Dados do IBGE (2024) mostram que a maioria das pessoas enquadradas no MEI é de pessoas que estavam no mercado de trabalho, com carteira assinada antes de se tornarem MEI e que quase 3 em cada 4 MEIs tinham outra experiência no mercado formal de trabalho, inclusive, em vários casos, de forma concomitante como MEI. Ou seja, o MEI não está incluindo informais, ao revés, está excluindo os formais! 

Penso que o MEI foi criado com boas intenções, mas os dados mostram que houve desvirtuação do sistema que pode gerar efeitos colaterais muito negativos no médio e longo prazo, demandando reestruturação urgente, além de debate sobre alíquotas de contribuição realmente sustentáveis financeira a atuarialmente. Afinal, o futuro da Previdência Social é de interesse coletivo e deveria ser uma preocupação de todos os brasileiros.

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