Sento-me à frente da memória,
como quem liga uma TV antiga,
e vejo, nas faíscas do tempo,
minha história que ainda me instiga.
Surge uma menina de laço,
com sonhos maiores que o uniforme,
pisando poças de barro e esperança,
corajosa antes de ser conforme.
A imagem trepida, mas segue:
agora sou moça à luz da lamparina,
enquanto o mundo dorme, eu estudo,
minha luta era minha rotina.
Ali descobri que talento sem esforço
é só rascunho mal escrito,
e fiz da noite companheira fiel,
no juramento de ser mais que um mito.
Corta a cena: diplomas pendendo de um braço,
do outro, dois filhos inquietos,
uma bolsa com códigos e fé,
um colo virando afeto e decreto.
Aprendi que a mulher que embasa um lar
e conquista um direito,
é templo, espada e abrigo,
é força vestida com jeito.
Meus sapatos gastaram chão de igreja,
pedindo força ao Divino,
enquanto meus saltos batiam no fórum,
com o respeito de quem fez destino.
Rezando, eu fui barro maleável,
lutando, tornei-me rocha altaneira,
E entendi que se a vida me dobra,
eu devolvo em forma de bandeira.
Hoje, não temo as rugas do tempo,
nelas carrego minha assinatura.
Sou prova viva de que a estrada mais dura
produz a alma mais pura.
E se o tempo ousar demonstrar
que ainda me resta prova ou embate,
que rebobine o filme e aprenda:
eu não envelheço — viro combate!
A Editora OAB/PE Digital não se responsabiliza pelas opiniões e informações dos artigos, que são responsabilidade dos autores.
Envie seu artigo, a fim de que seja publicado em uma das várias seções do portal após conformidade editorial.