Hoje, 11 de agosto, devido a fundação das duas primeiras faculdades de Direito em nosso país, fundadas em 1827, nas cidades de São Paulo e Olinda, é um dia especial.
Advogar é, sem dúvida, uma arte — simples e complexa como a interpretação de uma sinfonia de Beethoven, ou como a leitura atenta de um denso romance de Dostoiévski.
Em Arte del Derecho, Francesco Carnelutti afirma, com precisão, que a interpretação jurídica e a interpretação artística não são atividades distintas, mas essencialmente a mesma coisa. Se o Direito — prossegue ele — não fosse arte, não haveria interpretação em seu âmbito. A interpretação jurídica é uma forma de interpretação artística; se não possuísse esse caráter, não seria interpretação. A grandeza de juristas como Vittorio Scialoja e de maestros como Arturo Toscanini pertence, portanto, a uma mesma categoria.
Nada mais verdadeiro. O jurista está quase sempre diante dos intricados labirintos das relações humanas e, ao interpretar o ordenamento jurídico, pode conduzir o ser humano à luz — ou ao abismo.
Interpretar uma lei assemelha-se ao ato de lançar-se sobre uma partitura musical: trata-se de desvendar os mistérios e os segredos do compositor, e torná-los compreensíveis — e belos — aos ouvidos da coletividade.
A arte de advogar exige, antes de tudo, paixão. Impressionava a intensidade com que figuras como Rui Barbosa e Sobral Pinto defendiam suas causas.
A paixão, aliás, é a força condutora do mundo, como ressalta o poeta pernambucano Ângelo Monteiro, em poema publicado no livro Armorial de um Caçador de Nuvens.
Mas há mais: para alcançar arte e paixão, o advogado precisa de estratégia. Precisa conhecer a Arte da Guerra — mesmo quando o objetivo é construir a paz. A advocacia é um dos raros ofícios em que se enfrenta um adversário, devido à própria estrutura triangular da relação processual. Para vencer, é preciso preparo, inteligência tática e muita luta.
Advogar também exige concentração. Quanto maior a atenção e o foco no exercício da profissão, maiores são as chances de êxito.
Nos tempos atuais, o advogado deve, mais do que nunca, assumir a dimensão social da profissão.
O jurista Mauro Cappelletti escreveu:
“(…) sob a ponte da Justiça, passam todas as dores, todas as misérias, todas as aberrações, todas as opiniões políticas, todos os interesses sociais. Justiça é compreensão, isto é, tomar em conjunto e adaptar os interesses opostos: a sociedade de hoje e a esperança de amanhã.”
O ranço individualista e elitista que por vezes ainda contamina a advocacia precisa ser superado, em nome de um compromisso mais profundo com a sociedade e a justiça social.
O advogado representa, diante de um dos poderes do Estado, os anseios, as angústias e as esperanças do povo. E, nessa missão, deve buscar não apenas a correta aplicação da lei, mas sobretudo a justiça, contribuindo para o aprimoramento da vida em sociedade.
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