Leticia Ferreira da Silva

Entre o ideal e a realidade: A jornada inspiradora dos jovens advogados no Brasil

Postado em 13 de agosto de 2025 Por Letícia Ferreira da Silva  Estudante de Direito – Faculdade Imaculada Conceição do Recife

No calendário jurídico brasileiro, o dia 11 de agosto tem um significado especial: é o Dia do Advogado e da Advogada, uma data que simboliza a importância dessa profissão para a consolidação do Estado Democrático de Direito, para a defesa dos direitos fundamentais e para a promoção da justiça social. A advocacia representa o compromisso constante com a ética, a busca pela verdade e a garantia de que a voz do cidadão seja ouvida e respeitada. É um ofício que carrega em si o poder de transformar vidas e, por consequência, a sociedade.

Contudo, para muitos jovens advogados que estão iniciando sua trajetória profissional, essa data também pode evocar um misto de esperança e apreensão. Após anos de estudo intenso, aprovação na prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a conquista do tão almejado registro profissional, o contato com o mercado jurídico revela um cenário complexo e desafiador, no qual o entusiasmo precisa conviver com a realidade do excesso de oferta, da competição acirrada e das dificuldades estruturais que marcam o início de carreira.

O Brasil é um dos países com maior número de advogados no mundo, superando a marca de 1,3 milhão de inscritos na OAB. Essa cifra expressiva reflete a democratização do acesso ao ensino superior, mas também aponta para a saturação do mercado. Para o jovem profissional, esse contexto traduz-se em uma corrida constante para captar clientes, construir reputação e manter a sustentabilidade financeira do escritório — tarefas que exigem não só conhecimento jurídico, mas também habilidades empreendedoras, de gestão e comunicação.

Ao se deparar com a dura realidade do mercado, muitos recém-formados percebem que o diploma e a aprovação no exame da OAB são apenas o ponto de partida. A advocacia não é exercida em um ambiente ideal, protegido e acolhedor, mas sim em um sistema que demanda persistência, flexibilidade e, sobretudo, coragem. A cobrança por resultados imediatos, o receio constante de falhas e o desafio de atender às expectativas de clientes, que muitas vezes desconhecem as nuances do processo judicial, geram uma pressão intensa que exige equilíbrio emocional.

Além disso, os custos invisíveis da profissão — como a manutenção de uma estrutura física, aquisição de tecnologia, deslocamentos para audiências e fóruns, além das despesas pessoais — pesam no orçamento do jovem advogado. Muitos optam por escritórios compartilhados ou até mesmo o trabalho remoto, estratégias que, embora econômicas, apresentam desafios para a construção de uma imagem profissional sólida perante clientes e colegas.

É necessário destacar que a concorrência no mercado jurídico também revela nuances de desigualdade. Advogados com mais tempo de estrada, contatos consolidados e acesso a redes de influência tendem a monopolizar os melhores casos e clientes, enquanto os iniciantes precisam se reinventar continuamente para abrir espaço. Essa realidade reforça a importância da especialização, do networking e da busca constante por atualização técnica e comportamental.

A pressão psicológica é outro fator relevante e muitas vezes subestimado. O jovem advogado enfrenta prazos exíguos, demandas conflitantes, audiências estressantes e a responsabilidade de lidar com direitos que impactam diretamente a vida das pessoas. O desgaste emocional, associado à insegurança financeira e à cobrança constante, pode desencadear ansiedade, estresse e até quadros de burnout, condições que exigem atenção e políticas efetivas de cuidado à saúde mental no meio jurídico.

Por outro lado, a tecnologia tem se apresentado como uma aliada poderosa na superação desses desafios. Ferramentas digitais, softwares de gestão e plataformas de comunicação ampliam as possibilidades de atuação, permitindo que o jovem advogado alcance públicos distantes, otimize o tempo e desenvolva estratégias mais eficientes. O marketing jurídico, quando ético e bem planejado, abre portas para a construção de uma marca pessoal autêntica e confiável.

Diante desse cenário multifacetado, é imprescindível reconhecer a resiliência e a determinação dos jovens advogados. Apesar das adversidades, eles mantêm acesa a chama da paixão pelo Direito, acreditando no potencial transformador da profissão. Muitos se engajam em causas sociais, advocacia pro bono e iniciativas que reforçam o papel do advogado como agente de mudança social.

Neste Dia do Advogado e da Advogada, a homenagem vai além das celebrações tradicionais. É um convite para refletirmos sobre as condições reais de trabalho e inserção desses profissionais, sobre a necessidade de políticas públicas e institucionais que apoiem a juventude jurídica, e sobre o reconhecimento merecido a quem, mesmo diante das dificuldades, não abre mão de lutar por justiça.

A advocacia jovem é, portanto, um pilar essencial para o futuro do Direito no Brasil. Investir em sua valorização é investir na própria democracia e na efetividade dos direitos que ela promete assegurar. Que o 11 de agosto seja um marco para celebrarmos não apenas os feitos, mas também o esforço contínuo daqueles que constroem, dia após dia, um país mais justo, ético e solidário.

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