Manoela Alves

Advocare Inclusio: o futuro da advocacia fala a língua da equidade

Postado em 09 de julho de 2025 Por Manoela Alves Advogada, Professora Universitária e Consultora em Diversidade, Equidade e Inclusão. Sócia fundadora da Banca Azevêdo e Alves Advocacia e Diretora do Instituto Enegrecer. Mestra e Doutoranda em Direito pela UNICAP e Pesquisadora em Gênero, Raça e Tecnologia.

No coração da palavra “advocacia” está o verbo latino advocare — que significa chamar para junto, defender, apoiar. Mais do que técnica, portanto, advogar é um gesto de convocação e de cuidado com as pessoas. Mas em tempos de múltiplas desigualdades e de disputas por reconhecimento, esse gesto só é completo quando está acompanhado de uma linguagem comprometida com a justiça social. É nesse ponto que entra o conceito de comunicação antidiscriminatória, ferramenta fundamental para a atuação da advocacia contemporânea. Uma advocacia que, mais do que interpretar leis, também fala a língua da equidade. Uma advocacia que pratica o que podemos chamar de advocare inclusio.

Os escritórios de advocacia, principais ambientes de inserção profissional na área, já captaram esse movimento. Muitos têm criado comitês internos de diversidade, promovido debates sobre temas como racismo estrutural, capacitismo e lgbtfobia, e buscado profissionais que combinem domínio técnico com sensibilidade ética. Hoje, espera-se de quem advoga não apenas conhecimento jurídico, mas também capacidade de dialogar com realidades plurais, de respeitar diferentes vivências e de se comunicar com empatia e responsabilidade.

A comunicação antidiscriminatória, nesse contexto, tornou-se uma habilidade estratégica. Profissionais que dominam essa prática se destacam desde o atendimento a sua clientela até a produção de peças processuais, pareceres, petições, defesas públicas, conteúdos digitais e estratégias institucionais. Nas redes sociais, onde a advocacia também se posiciona e se fortalece, é a partir de uma comunicação ética, informativa e respeitosa que muitos profissionais têm construído reputações sólidas e captado clientela.

Além disso, cresce a demanda por especialistas em direito antidiscriminatório — campo que atravessa áreas como o direito do trabalho, penal, cível, empresarial e administrativo. Casos de racismo, assédio moral com recorte de gênero, discriminação contra pessoas com deficiência ou intolerância religiosa não são mais marginalizados no Judiciário. Ao contrário: têm gerado decisões robustas, indenizações relevantes e jurisprudência em construção. Profissionais da advocacia que compreendem as dinâmicas dessas opressões e dominam uma linguagem apropriada tem uma maior preparação para lidar com essas demandas e oferecer um serviço jurídico verdadeiramente transformador.

O Poder Judiciário e o Ministério Público também caminham nessa direção. Protocolos como o de julgamento com perspectiva de gênero, o protocolo de julgamento com perspectiva racial, as cartilhas internas de diversidade, os cursos de formação e os comitês de equidade institucional mostram que a linguagem, no direito, é instrumento de decisão e não apenas meio de expressão. Quando a forma de comunicar se transforma, o conteúdo da justiça também muda.

A comunicação antidiscriminatória não é apenas um adorno ético, mas um verdadeiro recurso profissional de alta performance. Desenvolver essa competência aprimora soft skills como escuta ativa, empatia, adaptabilidade, inteligência emocional e pensamento crítico — habilidades cada vez mais valorizadas em escritórios, bancas jurídicas e departamentos de compliance. Mais do que isso: aprimora também a capacidade de empreender na advocacia com coerência, sensibilidade e alinhamento aos princípios constitucionais que fundamentam a profissão.

Ser coerente com esses princípios, aliás, é parte da missão da advocacia.  Assim, quando a comunicação de quem advoga ignora ou reproduz formas de discriminação — mesmo que inconscientemente — algo fundamental se rompe entre a prática e o ideal da profissão.

Por isso, investir no domínio da comunicação antidiscriminatória é investir em uma advocacia mais atualizada, mais ética e mais eficaz. Uma advocacia que se alinha aos desafios do presente e antecipa as demandas do futuro. Que reconhece a potência transformadora da linguagem. Que compreende que palavras discriminam, mas também podem reparar, acolher e reconstruir.

Em tempos de pluralidade e vigilância social, não basta saber a lei. É preciso saber como se comunicar com o mundo que ela pretende transformar. E esse mundo exige que a advocacia fale, cada vez mais, a língua da inclusão.

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