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A ineficiência das políticas de segurança pública e a terceirização da responsabilidade para as torcidas organizadas no Estado de Pernambuco

Postado em 11 de junho de 2025 Por Egildo Feliciano da Silva Júnior Jovem Advogado, Pós-Graduando em Advocacia Trabalhista e Previdenciária, membro da Comissão de Prevenção e Acompanhamento da Violência no Futebol da OAB-PE.

É impossível ignorar a violência associada às torcidas organizadas no Brasil. Em Pernambuco, assim como em diversos outros estados da Federação, episódios de confrontos entre torcedores não são raridade — são, infelizmente, uma rotina já naturalizada. No entanto, é equivocado tratar esse fenômeno como um problema exclusivo das torcidas ou dos clubes esportivos. A violência nos estádios e arredores revela, sobretudo, a falência de uma política de segurança pública eficiente e integrada.

As cenas amplamente divulgadas dos confrontos entre torcedores de Santa Cruz e Sport, ocorridas em 1º de fevereiro de 2025, chocaram a opinião pública. Ainda assim, é necessário contextualizar: esse não foi um caso isolado. Desde a fundação das torcidas organizadas envolvidas, episódios semelhantes se repetem, em ciclos de violência que persistem ao longo dos anos. A criminalização generalizada dessas torcidas, contudo, ignora um fato importante: a grande maioria de seus integrantes busca apenas apoiar seus clubes e expressar sua paixão pelo futebol.

As torcidas organizadas, em essência, são movimentos culturais, de identidade coletiva e expressão popular. Seu crescimento, no entanto, dificultou o controle sobre quem delas participa. Infelizmente, como em qualquer agrupamento humano de grande porte, há elementos que se aproveitam do coletivo para promover atos ilícitos e violentos. É preciso, portanto, evitar a generalização. Existem, sim, “maçãs podres”, mas isso não significa que toda a cesta esteja comprometida.

A resposta do Estado, por sua vez, tem sido marcada por medidas ineficazes e, muitas vezes, simbólicas. A proibição da presença de torcidas organizadas nos estádios ou a aplicação de sanções financeiras aos clubes são ações que atacam os efeitos, e não as causas. Pior: penalizam torcedores inocentes e causam impactos negativos à economia local, especialmente aos comerciantes que dependem do movimento gerado pelos dias de jogo.

É preciso mudar a abordagem. O poder público deve investir na identificação individual e precisa dos envolvidos nos episódios de violência. Punir instituições (o CNPJ), sem responsabilizar os autores diretos (os CPFs), é uma estratégia inócua. As torcidas continuarão a existir formalizadas ou não, e a violência não será contida com ações superficiais.

Além disso, é urgente reforçar o efetivo policial e melhorar sua capacitação para atuação em eventos esportivos. Isso inclui pensar em formações específicas dentro da Polícia Militar, voltadas à gestão de grandes públicos e à mediação de conflitos, de modo a garantir a segurança dos torcedores e da população em geral.

A violência nos estádios é um problema complexo, que exige soluções igualmente complexas. Torcidas, clubes e poder público precisam agir em conjunto, com responsabilidade e compromisso. Medidas simplistas não resolverão o problema. É necessário, sim, tocar na ferida: enfrentar as causas estruturais da violência, investir em inteligência policial, responsabilizar os agressores e, principalmente, preservar o direito das famílias e dos verdadeiros torcedores de frequentarem os estádios com segurança.

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