Num país onde a desigualdade social tem nome, cor e CEP, o sistema tributário deveria ser uma ferramenta de correção — e não de aprofundamento das injustiças. No Brasil, quem ganha menos paga proporcionalmente mais impostos do que quem ocupa o topo da pirâmide econômica. Os ricos acumulam, os pobres sustentam. E seguimos fingindo que isso é normal.
A ideia de taxar grandes fortunas é simples e poderosa: tornar o sistema mais justo. Não se trata de demonizar o sucesso, e sim de compreender que a prosperidade individual só faz sentido quando acompanhada pelo bem-estar coletivo. Quem chegou mais longe precisa ajudar a pavimentar o caminho para os que ainda estão correndo.
O peso do sistema atual recai sobre os mais pobres
Hoje, mais de 50% da arrecadação tributária vem do consumo — o famoso imposto embutido em tudo, do pão francês ao sabão em pó. Ou seja, quem ganha um salário mínimo paga, proporcionalmente, muito mais do que quem lucra milhões com dividendos não tributados. É um sistema regressivo, cruel e disfarçado de neutro.
Enquanto isso, as grandes fortunas escapam pela porta dos fundos: planejamento fiscal agressivo, elisão, paraísos fiscais. E ainda há quem diga que “taxar os ricos é injusto”.
Injustiça é um país onde crianças vão à escola com fome enquanto iates não pagam IPVA.
Exemplos que funcionam: o mundo não acabou na Europa
Países como França, Espanha, Alemanha e Noruega já adotam modelos de tributação sobre grandes fortunas. Alguns criaram alíquotas progressivas para ativos acima de certos valores; outros aplicam impostos sobre heranças e ganhos de capital. É claro que cada sistema tem suas falhas, mas o ponto é que há alternativas funcionais — e elas não levaram à ruína econômica.
No Brasil, propostas de taxação de grandes fortunas já passaram pelo Congresso, mas enfrentam forte resistência. Parte dela vem do lobby poderoso de quem não quer abrir mão de privilégios. Outra parte nasce do medo alimentado pela desinformação. Mas, em meio a isso, uma nova geração de empresários e herdeiros — como Walter Salles — tem se levantado para dizer que pagar mais pode ser um ato de cidadania.
O que seria uma taxação justa e eficiente?
Responsabilidade compartilhada
Pedir que os bilionários contribuam mais não é sinal de fracasso do Estado — é um sinal de maturidade democrática. O Estado não pode mais depender da tributação do consumo enquanto os lucros excessivos vivem em bolhas intocáveis. A verdadeira justiça fiscal exige coragem política e respaldo popular.
E aqui entra um papel crucial: o da sociedade civil, dos professores, estudantes, jornalistas, lideranças comunitárias. Esse debate precisa sair das páginas de economia e ganhar espaço nos cafés, nas redes sociais, nas salas de aula.
Justiça fiscal não é utopia, é urgência
Taxar grandes fortunas não vai resolver todos os problemas do Brasil. Mas é um passo decisivo para reconstruir a confiança nas instituições, reduzir desigualdades estruturais e mostrar que a equidade não é uma fantasia — é uma escolha.
Se queremos um país onde a dignidade não seja um luxo, mas um direito, precisamos começar por quem pode mais. Porque a justiça fiscal, como a esperança, vem de cima — mas só floresce quando alcança todos.
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