A violência no ambiente escolar tem se tornado uma preocupação crescente e urgente em nossa sociedade. Episódios de agressões físicas, psicológicas e simbólicas entre estudantes, contra professores ou mesmo entre profissionais da educação revelam uma profunda crise nos vínculos sociais que deveriam ser cultivados no espaço da escola. Não se trata apenas de atos isolados, mas de sintomas de um problema estrutural que envolve desigualdades sociais, abandono de políticas públicas e naturalização de práticas violentas em diferentes esferas da vida cotidiana.
A escola, enquanto instituição responsável pela formação cidadã, não pode ser reduzida a um espaço de reprodução de conteúdo. Ela é, sobretudo, território de convivência, construção de identidade e exercício de valores democráticos. Quando a violência se instala nesses espaços, ela compromete a missão educadora, corrói a confiança mútua e fragiliza a aprendizagem. É nesse contexto que se impõe o debate sobre a necessidade de fomentar uma cultura de paz como horizonte ético e político da educação.
Falar em cultura de paz é muito mais do que propor a ausência de conflitos. Trata-se de cultivar práticas, valores e atitudes que priorizem o respeito, a empatia, o diálogo, a escuta ativa e a resolução pacífica das divergências. Isso implica romper com a lógica punitivista e excludente que, muitas vezes, orienta a gestão dos conflitos escolares. O desafio é fazer da escola um espaço de convivência democrática, onde a diversidade seja acolhida e onde os conflitos, inevitáveis na vida social, sejam enfrentados de maneira pedagógica e transformadora.
A construção de ambientes educativos humanizadores demanda estratégias múltiplas e integradas. Entre elas, destaca-se a necessidade de fortalecer a formação continuada dos profissionais da educação, com ênfase em temas como direitos humanos, justiça restaurativa, relações étnico-raciais e inclusão. Não se pode esperar que educadores enfrentem sozinhos os desafios complexos da violência escolar sem o devido suporte técnico, emocional e institucional.
Além disso, é fundamental instituir e ampliar políticas públicas que valorizem a escuta das juventudes e o protagonismo estudantil. Os jovens precisam ser vistos como sujeitos de direitos, com voz ativa nos processos decisórios da escola. Projetos como rodas de diálogo, assembleias escolares, mediação de conflitos e comissões de convivência são exemplos de práticas que favorecem a construção coletiva de soluções e fortalecem o sentimento de pertencimento à comunidade escolar.
Outro eixo fundamental para consolidar a cultura de paz nas escolas é o envolvimento das famílias e da comunidade. A escola não é uma ilha. O que se vive nos corredores escolares é, muitas vezes, reflexo da violência vivenciada nos lares, nas ruas, nos meios digitais. Por isso, é necessário estabelecer canais permanentes de diálogo entre a escola e os diversos atores sociais do território, promovendo ações intersetoriais com áreas como saúde, assistência social, cultura e segurança pública.
Importa lembrar que a violência escolar também está associada às múltiplas formas de opressão presentes na sociedade, como o racismo, o machismo, a LGBTfobia e a intolerância religiosa. Combater essas violências exige uma abordagem interseccional e comprometida com os princípios da equidade e da justiça social. Isso passa, necessariamente, pela implementação de uma educação antidiscriminatória e plural, que valorize os saberes das diferentes culturas e combata toda forma de exclusão. Nesse contexto, a promoção da cultura de paz não pode ser reduzida a campanhas pontuais ou atividades esporádicas. Ela precisa estar inscrita no projeto político-pedagógico da escola, orientando as práticas cotidianas e a relação entre todos os sujeitos que compõem o ambiente educativo. Trata-se de um compromisso ético que desafia toda a sociedade a repensar seus modos de convivência e a construir, coletivamente, espaços de afeto, solidariedade e respeito.
A superação da violência escolar não será possível sem investimento em políticas estruturantes. É preciso garantir condições dignas de trabalho aos educadores, valorização da escola pública, financiamento adequado e acesso a recursos pedagógicos que favoreçam metodologias participativas e inclusivas. Em paralelo, é necessário enfrentar o discurso de ódio e a banalização da violência que se disseminam nas redes sociais e atravessam o imaginário social.
Enfim, humanizar os ambientes escolares é, antes de tudo, acreditar que a educação pode ser um instrumento de transformação social. É recusar o medo como ferramenta de controle e apostar na confiança como alicerce da aprendizagem. É compreender que a paz não é um dado, mas uma construção cotidiana que exige coragem, sensibilidade e compromisso. Nesse processo, educar para a paz é também educar para a cidadania, para os direitos humanos e para a democracia.
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